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Arnaldo Menezes: O diálogo dos sonhos
Eis que num total acaso, dois jovens de doze e treze anos, respectivamente, se encontram numa praça e se sentam num dos corroídos e mal tratados bancos, para “trocar uma ideia”.
Ambos, óbvio, de celular à mão, afinal sem os GPS familiar, não conseguem cumprir sua agenda, e logo, nem conseguirão voltar para casa, tamanha é a dependência.
Diz um deles: – “E aí cara, como está o lance nas tuas paradas? (Novo Dicionário Antônio Buraco de França).
Diz o outro: – “Sei não, o bagulho está estranho. Meu pai já não fala com minha mãe. Eles ficam de olhos parados, e indicador na tela do aparelho”.
– “Esquenta não, lá em casa também é assim. A galera senta para almoçar e ninguém percebe quem estava ou não na mesa”. (no Aurélio Buarque era à mesa)
– Cara, vou te falar de umas paradas, antigamente o lance era melhor, eu me sentia mais querido, todos se preocupavam comigo, me ouviam e sempre tinham algo para me falar. Assunto era o que não faltava brother. Tinha mais alegria e amor”.
-” Aí meu parceiro, lá em casa tá nessa vive. Tudo parado, tristão parece filme de zumbi, igual àquele filme do Michel Jackson. Todo mundo andando de cabeça baixa e passando o dedo no vidro. Ainda bem que meu dog “conversa comigo”.
-“Brother, lá nas minhas paradas é igual, eu converso com minha calopsita e meu gato, o “ralado”.
– “Acho que vou morar com meu vô e minha vó. Eles não tem aparelhos, lá está tudo sempre feliz, o assunto rola e a hora passa com mais alegria. Meus véios tem brilho, não lembram em nada, os zumbis lá de casa”.
-“Pô, os meus moram longe, lá para as paradas dos nordestes. Vou ter que ficar por aqui mesmo, sendo vítima das máquinas”.
-“Falou meu brother, vou indo, entrou uma mensagem do meu pai me procurando, para levar alguma coisa dele, para um carinha colocar película”.
-“Falou. Esse mundo tá e doido”.
“Tire um pouco os olhos da tela, olhe para frente em silêncio. Você não escutará, não verá, mas, tem um coração olhando para você e batendo, querendo ser ouvido. Também é máquina, porém humana.”